segunda-feira, junho 18, 2012

O AMOR QUE CURA E LIBERTA, QUE ADOECE E APRISIONA.


Muitos sábios e cientistas afirmam que o amor é uma das forças mais curadoras e renovadoras da vida. Porém sabemos que o amor é o que leva as pessoas a cometer as maiores atrocidades: as pessoas matam em nome do amor, fazem guerra em nome do amor que sentem pelo seu Deus e assim por diante. A fidelidade, que é uma forma de amor, pode ser muito perigosa e pode aprisionar.

Quando alguém diabético come açúcar e um filho ou familiar controla ou vigia essa pessoa, esse filho ou familiar faz isso por amor, porque não quer que o diabético morra. O diabético, por sua vez, tende a se sentir vigiado, irritado e muitas vezes se torna agressivo e até agride o seu 'perseguidor' porque não recebe esse controle como uma forma de amor e sim de desrespeito. Embora a pessoa que con­trola queira demonstrar com isso o seu amor e cuidado, o outro se sente desrespeitado, invadido e não aceita essa atitude como uma demonstração de amor.
Neste caso vemos que o amor está presente, porém sendo expresso de uma forma que o outro não entende como demonstração de amor. Por que isso acontece? E estranho, mas muitas vezes o amor só é vivenciado quando o expres­samos de forma direta. Nossa mente não aceita, na maioria das vezes, o controle como forma de amor, e percebemos isso quando a pessoa controlada explode com raiva e a pessoa que estava controlando não entende a sua atitude, já que ela só estava tentando ajudar, querendo dizer que a ama e que tem medo do que pos­sa acontecer se, no caso do exemplo acima, ela continuar a comer açúcar.
 Ela se assusta e por vezes se indigna ao ver como o outro não entende sua atitude da for­ma correta. Isso acontece de muitas formas e nas mais variadas situações quando, por algum motivo, desrespeitamos estas Ordens que atuam para canalizar o amor.
A pessoa que reage a esse controle normal­mente sente que está sendo desrespeitada na sua vida. Nós queremos, de forma geral, ter o con­trole da nossa vida e costumamos reagir quando alguém ousa determinar algo que só compete a nós mesmos.

Existem algumas dinâmicas básicas nos enredamentos e gostaria de evidenciar:

1 - EU SIGO VOCE - Nesta dinâmica, a pessoa expressa seu amor e vínculo a alguém da família seguindo o destino, os sentimentos e as atitudes. Exemplos clássicos: o filho de um suicida também pensar em se suicidar; o filho do alcoólatra se tornar também alcoólatra.

Por que isso acontece?
Notamos que normalmente as pessoas que se suicidam ou são alcoólatras, não têm o respei­to e muitas vezes são excluídas da família. Além disso, frequentemente as pessoas da família sen­tem vergonha e os consideram pessoas fracas. Os suicidas muitas vezes se sentem secretamente culpados.

Uma forma de amenizar este sentimento é ten­tar esquecer a pessoa que se suicidou ou nunca mais faiar sobre isso. Vemos que assim se exclui a pessoa que se matou e isso desrespeita a primeira ORDEM da pertinência. Quando isso acontece, outra pessoa em outra geração tende a seguir os mesmos impulsos para fazer presente aquela pessoa que se matou, mesmo que ela não saiba que a pessoa se suicidou. No Sistema este fato está presente na memória da família e alguém vai servir para reparar esta exclusão.

2 - EU PAGO EM SEU LUGAR - Nesta dinâmica o amor se expressa por meio do sacrifício. O amor infantil acredita que, se eu pagar pelo outro, ele não precisará mais sofrer com as suas culpas.

3 - ANTES EU QUE VOCÊ - Nesta dinâmica, a pessoa se dispõe a morrer no lugar do outro da família, isso acontece com frequência quando alguém da família tem um forte impulso de morrer. Os filhos tendem a querer morrer no lugar dos pais, ou mesmo irmãos mais novos no lugar de irmãos mais velhos. Isso aparece com muita fre­quência. Já vi isso acontecer entre casais. Nestes casos o amor mágico acredita que se um morre o outro pode ficar.

Nas três dinâmicas básicas citadas observamos a presença do amor mágico ou amor cego, que está disposto a tudo para expressar o seu amor pela família: sofrimento, doenças ou até morte. Claro que nada disso é consciente, mas, no momento em que vem à tona, o amor infantil pode encontrar uma forma madura e direta de se expressar, trazendo alívio a todos dentro do Sistema. O amor mágico é um amor que sempre tende ao fracasso, ou seja, quando expressamos o nosso amor desrespeitando as Ordens do amor sempre tendemos ao fracasso e no final não con­seguimos o que queríamos atingir dentro da situação.

Como funcionam estas relações entre pais e filhos? Entre casais? E entre irmãos?

PAIS E FILHOS

Os pais dão a vida aos filhos e seguindo o princípio de troca em equilíbrio, os filhos não têm como retribuir na mesma dimensão, pois não existe nada maior do que a própria vida. Na maioria dos casos, os pais passam déca­das dando e os filhos recebendo, isso gera um profundo desequilíbrio nessa relação de troca, fazendo com que os filhos se sintam sempre de­vedores. Este é o motivo que faz os filhos se sentirem devedores dos pais, e por mais que façam para estes pais, continuam se sentindo devedores. Então como o filho pode retribuir aos pais algo tão grande que recebeu?

De uma forma geral, quando os filhos não encontram esse caminho para retribuir tudo que receberam, buscam caminhos distorcidos para compensar este desequilíbrio de troca. Porém a relação entre pais e filhos é uma relação de troca entre desiguais e nessa relação a única forma de retribuir o que se recebeu é agradecendo e princi­palmente reconhecendo e demonstrando apreço. Diferente da relação de troca entre iguais, na qual quem recebe tem como devolver algo na mesma dimensão, na relação com nossos pais isso não é possível, restando apenas reconhecer e agradecer tudo que recebemos e reconhecer que tudo que conquistamos na vida devemos a eles e graças a todo o investimento que fizeram em nós.
Quando isso acontece, ocorre uma nivelação do desequilíbrio de troca gerando para os pais uma sensação de satisfação, pois seu esforço e dedicação foram reconhecidos. Ao mesmo tempo traz alivio para os filhos porque eles sentem que, de fato, começaram a retribuir aos pais. Isso traz para a relação mais leveza e desprendimento, as­sim como força e liberdade na relação. Além disso, os filhos deveriam demonstrar de forma direta o amor que têm pelos pais, dizendo a eles EU AMO VOCÊS! Por incrível que pareça muitas pessoas passam a vida toda sem dizer aos pais que os amam ou o fazem somente no leito de morte!

Além de demonstrar amor e gratidão deveríamos expressar RESPEITO por eles. Esta palavra está em destaque por um motivo em especial e quero me estender um pouco mais sobre o assunto.
 Respeitar os pais significa aceitá-los como são. Significa amar esses pais mesmo que tenham defeitos, limitações, doenças, dificuldades, confli­tos, ou seja, respeitar o seu direito de ser como são. Eu os amo porque eles me deram a vida e muito mais. Querer mudar os pais, salvar, curar ou corrigir significa, em última instância, que eles só terão o nosso amor e gratidão se eles forem diferentes. Esta é a mensagem oculta por trás das tentativas de um filho mudar os pais. Por isso eles reagem, de forma geral, com raiva e afastamento, porque não se sentem aceitos e percebem essa mensa­gem oculta.

No exemplo do pai diabético que come açúcar e o filho que quer controlar o que ele come: o filho que controla o pai nessa situação percebe que o pai quer morrer e não aceita isso. O con­trole irrita o pai, que não se sente aceito no seu desejo inconsciente de morrer, e irrita o filho por­que ele tenta, com o controle, demonstrar para o pai o seu amor e gratidão. O pai não recebe isso como amor e sim como desrespeito. Honrar os pais significa expressar AMOR, RESPEITO E GRATIDÃO! Quando encontramos este caminho honramos e equilibramos a balança da troca trazendo força, liberdade e fluidez para a relação. Claro que continuamos lhes devendo nossa vida, mas isso é compensado quando damos a vida aos nossos filhos e levamos a nossa família adiante. Se não temos filhos podemos nos dedicar de coração a algo que nos dê sentido!

RELAÇÃO ENTRE IRMÃOS

Na relação entre irmãos vemos, com frequência, que parte dos conflitos surge quando a segunda força esta sendo desrespeitada: o filho mais novo não respeita o mais velho e quer tomar o seu lugar dentro da família. Ou ainda quando um dos filhos quer ocupar o lugar de um dos pais.
Isso tende a trazer muitos conflitos. Nesse caso, a ordem de chegada está sendo violada o que é imediatamente sentido dentro da família como algo em desordem. Quando uma pessoa está no seu devido lugar dentro da família, geralmente se sente calma e tranquila. Ao contrário, quando sai do seu lugar tende a se sentir forte e com direito de controlar, mandar em todos. Nesse caso temos a PARENTIFICAÇÃO, ou si­tuação em que ocorre uma inversão no papel de pais e filhos. Nessa situação, o filho olha para os pais de cima para baixo, se sente superior a eles e aos irmãos e tem a impressão que a família depende dele. Na minha experiência, os clientes desse tipo, que levam ao extremo a inversão, ten­dem a cometer suicídio.

RELAÇÃO DE CASAIS

Na relação de casais o sucesso está relacio­nado ao nível de respeito pelas Ordens do amor de forma direta. A minha experiência depois de anos de observação vai ao encontro da afirmação que Meilinger fez sobre conflitos de casais: "em mais de 70% dos casais em conflito o problema está na relação com a família de origem de cada um", ou seja, as questões mal resolvidas com a família de origem geram consequências nas relações afetivas. Esperar que o parceiro ou parceira preencha tudo aquilo que os pais não deram ou não foram sempre, leva à frustração na relação. Querer que o marido substitua o pai ou que a mulher subs­titua a mãe leva o casal a um beco sem saída. Pai é pai, mãe é mãe, marido é marido e esposa é esposa! Cada qual em seu lugar. Mas não é o que se vê nos casais em conflito. Frequentemen­te essa confusão é um dos motivos que levam à separação.
Além disso, existem outros fatores que interfe­rem na relação do casal. Com relação à Pertinência: quando caso com alguém, caso com a família desta pessoa. Querer excluir os pais da pessoa fere profundamente o amor do casal. A pessoa é metade o pai e metade a mãe e se não aceito os pais, em última instância, não aceito a pessoa. Além dos pais, fazem parte do sistema ex- maridos e esposas que chegaram antes. Se uma das partes ignora, não aceita ou respeita os ex que chegaram antes, isso tende a afastar o casal.

Nesse sentido acontece algo estranho: o Sis­tema não permite que uma pessoa seja feliz em cima do sofrimento de um ex. Isso aparece com muita frequência nos trabalhos.
Quando demons­tro respeito pelo passado do companheiro ou companheira o que se revela é que isso aproxima o casal e o contrário também é verdadeiro, isto é, o desrespeito pelos ex também afasta o casal. Outra observação importante na questão da Ordem de Chegada que observamos entre casais que diz respeito aos eventos. Exemplo: na vida de um casal, o evento do casamento normalmente precede o evento da maternidade. Com o nasci­mento do filho, se uma das partes prioriza a ma­ternidade ao casamento, a outra parte se sente traída.
Clientes chegam dizendo que o casamento começou a ruir depois que nasceram os filhos. Nesses casos a parte que se sente traída se afasta e tenta chamar atenção do outro se envolvendo com uma terceira pessoa.
Vejo isso acontecendo com muita frequência e em alguns casos, mesmo durante a gravidez, quando a mulher esquece o marido, e ele tende a se vingar procurando outra.

Por outro lado, a Ordem de Chegada protege as relações mais recentes. O que significa isso? Significa que a relação atual tem prioridade sobre relação anterior, embora o sucesso da relação atual só se dá quando reconheço que a relação anterior teve precedência. Vemos com isso que a precedência está relacionada à ordem de che­gada e de lugar, e prioridade está relacionada à ordem da necessidade.
Outra questão importante é o equilíbrio de troca. Um bom equilíbrio de troca aproxima e vincula profundamente os ca­sais e um desequilíbrio nessa troca afasta ou leva ao final da relação. O devedor, geralmen­te, quer partir, se sente humilhado e não suporta as cobranças do seu credor. Tanto fere a relação aquele que não retribui o que recebe quanto aquele que dá muito além do que o outro pode retribuir.
Dar além do que o outro pode retribuir é colocar em risco a relação e frequentemente aquele que recebeu muito além do que pode dar vai embora e o credor, na maioria das vezes, fica com o prejuízo.

A relação de troca muitas vezes é usada no relacionamen­to como uma forma de poder e segurança. O que significa isso? Significa que quando damos algo a alguém sabemos que agora o outro nos deve algo, o que gera uma falsa sensação de segurança ou poder. Ter o outro como devedor dá direitos sobre o outro, o que é perigoso, pois se o outro está sempre na posição de devedor em algum momento vai querer se vingar. É difícil estar o tempo todo na posição de devedor.
Por isso a troca deve ser equilibrada para que ambos sintam os dois lados da gan­gorra: hora credor e hora de­vedor. Ser só credor ou só de­vedor afasta e coloca a relação em risco. Portanto permanecer como credor para ter seguran­ça não é uma garantia de que o outro permanecerá na relação enquanto deve. Ao contrário, dever muito empurra o devedor para fora da relação deixando o credor com o prejuízo. Vemos isso naqueles casais que se separaram há anos e uma das partes diz "eu fiz tanto por ele ou ela e ele ou ela nun­ca reconheceu!". O casamento acaba, mas eles permanecem unidos pelas dívidas que exis­tem entre eles. Essa é uma for­ma muito ruim de terminar um casamento ou namoro. Nesses casos a relação termina, mas o casal permanece preso pelo saldo da relação que ficou em aberto. Salvar ou querer mudar o parceiro ou parceira também tende a levar o casal ao fracas­so!

O amor só pode ser vivido e vivenciado na sua plenitude quando as Ordens que o envolvem são respeitadas. Desrespeitar essas Ordens na expressão do nosso amor leva ao fracasso, mesmo quando estamos cheios de boas intenções. No final acabamos frustrados. Certa vez o ouvi dizer algo até poético sobre o amor: "o amor é como a ÁGUA e para podermos saboreá-la ela deve estar contida em algo, caso contrário penetra no solo ou evapora e continuamos com sede. Amar respeitando a Ordem é poder saciar a sede que temos de amar e ser amado". O amor é a água e o jarro são as Ordens que o contém!


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