Muitos sábios e cientistas
afirmam que o amor é uma das forças mais curadoras e renovadoras da vida. Porém
sabemos que o amor é o que leva as pessoas a cometer as maiores atrocidades: as
pessoas matam em nome do amor, fazem guerra em nome do amor que sentem pelo seu
Deus e assim por diante. A fidelidade, que é uma forma de amor, pode ser muito
perigosa e pode aprisionar.
Quando alguém diabético
come açúcar e um filho ou familiar controla ou vigia essa pessoa, esse filho ou
familiar faz isso por amor, porque não quer que o diabético morra. O diabético,
por sua vez, tende a se sentir vigiado, irritado e muitas vezes se torna
agressivo e até agride o seu 'perseguidor' porque não recebe esse controle como
uma forma de amor e sim de desrespeito. Embora a pessoa que controla queira
demonstrar com isso o seu amor e cuidado, o outro se sente desrespeitado,
invadido e não aceita essa atitude como uma demonstração de amor.
Neste caso vemos que o
amor está presente, porém sendo expresso de uma forma que o outro não entende
como demonstração de amor. Por que isso acontece? E estranho, mas muitas vezes
o amor só é vivenciado quando o expressamos de forma direta. Nossa mente não
aceita, na maioria das vezes, o controle como forma de amor, e percebemos isso
quando a pessoa controlada explode com raiva e a pessoa que estava controlando
não entende a sua atitude, já que ela só estava tentando ajudar, querendo dizer
que a ama e que tem medo do que possa acontecer se, no caso do exemplo acima,
ela continuar a comer açúcar.
Ela se assusta e por vezes se indigna ao ver
como o outro não entende sua atitude da forma correta. Isso acontece de muitas
formas e nas mais variadas situações quando, por algum motivo, desrespeitamos
estas Ordens que atuam para canalizar o amor.
A pessoa que reage a esse
controle normalmente sente que está sendo desrespeitada na sua vida. Nós
queremos, de forma geral, ter o controle da nossa vida e costumamos reagir
quando alguém ousa determinar algo que só compete a nós mesmos.
Existem algumas dinâmicas
básicas nos enredamentos e gostaria de evidenciar:
1 - EU SIGO VOCE - Nesta
dinâmica, a pessoa expressa seu amor e vínculo a alguém da família seguindo o
destino, os sentimentos e as atitudes. Exemplos clássicos: o filho de um
suicida também pensar em se suicidar; o filho do alcoólatra se tornar também
alcoólatra.
Por que isso acontece?
Notamos que normalmente as
pessoas que se suicidam ou são alcoólatras, não têm o respeito e muitas vezes
são excluídas da família. Além disso, frequentemente as pessoas da família
sentem vergonha e os consideram pessoas fracas. Os suicidas muitas vezes se
sentem secretamente culpados.
Uma forma de amenizar este
sentimento é tentar esquecer a pessoa que se suicidou ou nunca mais faiar
sobre isso. Vemos que assim se exclui a pessoa que se matou e isso desrespeita
a primeira ORDEM da pertinência. Quando isso acontece, outra pessoa em outra
geração tende a seguir os mesmos impulsos para fazer presente aquela pessoa que
se matou, mesmo que ela não saiba que a pessoa se suicidou. No Sistema este
fato está presente na memória da família e alguém vai servir para reparar esta
exclusão.
2 - EU PAGO EM SEU LUGAR -
Nesta dinâmica o amor se expressa por meio do sacrifício. O amor infantil
acredita que, se eu pagar pelo outro, ele não precisará mais sofrer com as suas
culpas.
3 - ANTES EU QUE VOCÊ -
Nesta dinâmica, a pessoa se dispõe a morrer no lugar do outro da família, isso
acontece com frequência quando alguém da família tem um forte impulso de
morrer. Os filhos tendem a querer morrer no lugar dos pais, ou mesmo irmãos
mais novos no lugar de irmãos mais velhos. Isso aparece com muita frequência.
Já vi isso acontecer entre casais. Nestes casos o amor mágico acredita que se
um morre o outro pode ficar.
Nas três dinâmicas básicas
citadas observamos a presença do amor mágico ou amor cego, que está disposto a
tudo para expressar o seu amor pela família: sofrimento, doenças ou até morte.
Claro que nada disso é consciente, mas, no momento em que vem à tona, o amor
infantil pode encontrar uma forma madura e direta de se expressar, trazendo
alívio a todos dentro do Sistema. O amor mágico é um amor que sempre tende ao
fracasso, ou seja, quando expressamos o nosso amor desrespeitando as Ordens do
amor sempre tendemos ao fracasso e no final não conseguimos o que queríamos
atingir dentro da situação.
Como funcionam estas
relações entre pais e filhos? Entre casais? E entre irmãos?
PAIS E FILHOS
Os pais dão a vida aos
filhos e seguindo o princípio de troca em equilíbrio, os filhos não têm como
retribuir na mesma dimensão, pois não existe nada maior do que a própria vida.
Na maioria dos casos, os pais passam décadas dando e os filhos recebendo, isso
gera um profundo desequilíbrio nessa relação de troca, fazendo com que os
filhos se sintam sempre devedores. Este é o motivo que faz os filhos se
sentirem devedores dos pais, e por mais que façam para estes pais, continuam se
sentindo devedores. Então como o filho pode retribuir aos pais algo tão grande
que recebeu?
De uma forma geral, quando
os filhos não encontram esse caminho para retribuir tudo que receberam, buscam
caminhos distorcidos para compensar este desequilíbrio de troca. Porém a
relação entre pais e filhos é uma relação de troca entre desiguais e nessa
relação a única forma de retribuir o que se recebeu é agradecendo e
principalmente reconhecendo e demonstrando apreço. Diferente da relação de
troca entre iguais, na qual quem recebe tem como devolver algo na mesma
dimensão, na relação com nossos pais isso não é possível, restando apenas
reconhecer e agradecer tudo que recebemos e reconhecer que tudo que
conquistamos na vida devemos a eles e graças a todo o investimento que fizeram
em nós.
Quando isso acontece,
ocorre uma nivelação do desequilíbrio de troca gerando para os pais uma
sensação de satisfação, pois seu esforço e dedicação foram reconhecidos. Ao
mesmo tempo traz alivio para os filhos porque eles sentem que, de fato,
começaram a retribuir aos pais. Isso traz para a relação mais leveza e
desprendimento, assim como força e liberdade na relação. Além disso, os filhos
deveriam demonstrar de forma direta o amor que têm pelos pais, dizendo a eles
EU AMO VOCÊS! Por incrível que pareça muitas pessoas passam a vida toda sem
dizer aos pais que os amam ou o fazem somente no leito de morte!
Além de demonstrar amor e
gratidão deveríamos expressar RESPEITO por eles. Esta palavra está em destaque
por um motivo em especial e quero me estender um pouco mais sobre o assunto.
Respeitar os pais significa aceitá-los como
são. Significa amar esses pais mesmo que tenham defeitos, limitações, doenças,
dificuldades, conflitos, ou seja, respeitar o seu direito de ser como são. Eu
os amo porque eles me deram a vida e muito mais. Querer mudar os pais, salvar,
curar ou corrigir significa, em última instância, que eles só terão o nosso amor
e gratidão se eles forem diferentes. Esta é a mensagem oculta por trás das
tentativas de um filho mudar os pais. Por isso eles reagem, de forma geral, com
raiva e afastamento, porque não se sentem aceitos e percebem essa mensagem
oculta.
No exemplo do pai
diabético que come açúcar e o filho que quer controlar o que ele come: o filho
que controla o pai nessa situação percebe que o pai quer morrer e não aceita
isso. O controle irrita o pai, que não se sente aceito no seu desejo
inconsciente de morrer, e irrita o filho porque ele tenta, com o controle,
demonstrar para o pai o seu amor e gratidão. O pai não recebe isso como amor e
sim como desrespeito. Honrar os pais significa expressar AMOR, RESPEITO E
GRATIDÃO! Quando encontramos este caminho honramos e equilibramos a balança da
troca trazendo força, liberdade e fluidez para a relação. Claro que continuamos
lhes devendo nossa vida, mas isso é compensado quando damos a vida aos nossos
filhos e levamos a nossa família adiante. Se não temos filhos podemos nos
dedicar de coração a algo que nos dê sentido!
RELAÇÃO ENTRE IRMÃOS
Na relação entre irmãos
vemos, com frequência, que parte dos conflitos surge quando a segunda força
esta sendo desrespeitada: o filho mais novo não respeita o mais velho e quer
tomar o seu lugar dentro da família. Ou ainda quando um dos filhos quer ocupar
o lugar de um dos pais.
Isso tende a trazer muitos
conflitos. Nesse caso, a ordem de chegada está sendo violada o que é
imediatamente sentido dentro da família como algo em desordem. Quando uma
pessoa está no seu devido lugar dentro da família, geralmente se sente calma e
tranquila. Ao contrário, quando sai do seu lugar tende a se sentir forte e com
direito de controlar, mandar em todos. Nesse caso temos a PARENTIFICAÇÃO, ou
situação em que ocorre uma inversão no papel de pais e filhos. Nessa situação,
o filho olha para os pais de cima para baixo, se sente superior a eles e aos
irmãos e tem a impressão que a família depende dele. Na minha experiência, os
clientes desse tipo, que levam ao extremo a inversão, tendem a cometer
suicídio.
RELAÇÃO DE CASAIS
Na relação de casais o
sucesso está relacionado ao nível de respeito pelas Ordens do amor de forma
direta. A minha experiência depois de anos de observação vai ao encontro da
afirmação que Meilinger fez sobre conflitos de casais: "em mais de 70% dos
casais em conflito o problema está na relação com a família de origem de cada
um", ou seja, as questões mal resolvidas com a família de origem geram
consequências nas relações afetivas. Esperar que o parceiro ou parceira
preencha tudo aquilo que os pais não deram ou não foram sempre, leva à
frustração na relação. Querer que o marido substitua o pai ou que a mulher
substitua a mãe leva o casal a um beco sem saída. Pai é pai, mãe é mãe, marido
é marido e esposa é esposa! Cada qual em seu lugar. Mas não é o que se vê nos
casais em conflito. Frequentemente essa confusão é um dos motivos que levam à
separação.
Além disso, existem outros
fatores que interferem na relação do casal. Com relação à Pertinência: quando
caso com alguém, caso com a família desta pessoa. Querer excluir os pais da
pessoa fere profundamente o amor do casal. A pessoa é metade o pai e metade a
mãe e se não aceito os pais, em última instância, não aceito a pessoa. Além dos
pais, fazem parte do sistema ex- maridos e esposas que chegaram antes. Se uma
das partes ignora, não aceita ou respeita os ex que chegaram antes, isso tende
a afastar o casal.
Nesse sentido acontece
algo estranho: o Sistema não permite que uma pessoa seja feliz em cima do
sofrimento de um ex. Isso aparece com muita frequência nos trabalhos.
Quando demonstro respeito
pelo passado do companheiro ou companheira o que se revela é que isso aproxima
o casal e o contrário também é verdadeiro, isto é, o desrespeito pelos ex
também afasta o casal. Outra observação importante na questão da Ordem de
Chegada que observamos entre casais que diz respeito aos eventos. Exemplo: na
vida de um casal, o evento do casamento normalmente precede o evento da
maternidade. Com o nascimento do filho, se uma das partes prioriza a
maternidade ao casamento, a outra parte se sente traída.
Clientes chegam dizendo
que o casamento começou a ruir depois que nasceram os filhos. Nesses casos a
parte que se sente traída se afasta e tenta chamar atenção do outro se
envolvendo com uma terceira pessoa.
Vejo isso acontecendo com
muita frequência e em alguns casos, mesmo durante a gravidez, quando a mulher
esquece o marido, e ele tende a se vingar procurando outra.
Por outro lado, a Ordem de
Chegada protege as relações mais recentes. O que significa isso? Significa que
a relação atual tem prioridade sobre relação anterior, embora o sucesso da
relação atual só se dá quando reconheço que a relação anterior teve
precedência. Vemos com isso que a precedência está relacionada à ordem de
chegada e de lugar, e prioridade está relacionada à ordem da necessidade.
Outra questão importante é
o equilíbrio de troca. Um bom equilíbrio de troca aproxima e vincula
profundamente os casais e um desequilíbrio nessa troca afasta ou leva ao final
da relação. O devedor, geralmente, quer partir, se sente humilhado e não
suporta as cobranças do seu credor. Tanto fere a relação aquele que não
retribui o que recebe quanto aquele que dá muito além do que o outro pode retribuir.
Dar além do que o outro
pode retribuir é colocar em risco a relação e frequentemente aquele que recebeu
muito além do que pode dar vai embora e o credor, na maioria das vezes, fica
com o prejuízo.
A relação de troca muitas
vezes é usada no relacionamento como uma forma de poder e segurança. O que
significa isso? Significa que quando damos algo a alguém sabemos que agora o
outro nos deve algo, o que gera uma falsa sensação de segurança ou poder. Ter o
outro como devedor dá direitos sobre o outro, o que é perigoso, pois se o outro
está sempre na posição de devedor em algum momento vai querer se vingar. É
difícil estar o tempo todo na posição de devedor.
Por isso a troca deve ser
equilibrada para que ambos sintam os dois lados da gangorra: hora credor e
hora devedor. Ser só credor ou só devedor afasta e coloca a relação em risco.
Portanto permanecer como credor para ter segurança não é uma garantia de que o
outro permanecerá na relação enquanto deve. Ao contrário, dever muito empurra o
devedor para fora da relação deixando o credor com o prejuízo. Vemos isso
naqueles casais que se separaram há anos e uma das partes diz "eu fiz
tanto por ele ou ela e ele ou ela nunca reconheceu!". O casamento acaba,
mas eles permanecem unidos pelas dívidas que existem entre eles. Essa é uma
forma muito ruim de terminar um casamento ou namoro. Nesses casos a relação
termina, mas o casal permanece preso pelo saldo da relação que ficou em aberto.
Salvar ou querer mudar o parceiro ou parceira também tende a levar o casal ao
fracasso!
O amor só pode ser vivido
e vivenciado na sua plenitude quando as Ordens que o envolvem são respeitadas.
Desrespeitar essas Ordens na expressão do nosso amor leva ao fracasso, mesmo
quando estamos cheios de boas intenções. No final acabamos frustrados. Certa
vez o ouvi dizer algo até poético sobre o amor: "o amor é como a ÁGUA e
para podermos saboreá-la ela deve estar contida em algo, caso contrário penetra
no solo ou evapora e continuamos com sede. Amar respeitando a Ordem é poder saciar
a sede que temos de amar e ser amado". O amor é a água e o jarro são as
Ordens que o contém!
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